Passado o pasmo e o frenesim primevo
de ver-se em chão seguro, o sábio das coisas vivas tomou decididamente a
dianteira, comandando as operações e encaminhando o grupo direito a uma das
grandes árvores da vertente interior da ravina. E ao contrário do que alguns
supunham, o capitão deixou-se guiar pelo sábio e foi atrás dele. Ficou a ideia
de que se arrependera do anterior dito e que assim se penitenciava da sua
ofensa.
Quando chegaram perto, pararam todos,
soltando grandes admirações, ante a beleza escultural da árvore e o seu porte dominador
e altivo. Ela tinha qualquer coisa de fascinante. Teria uns bons sessenta
metros de altura, o tronco liso e duríssimo, onde os golpes de catana pouco
penetravam, um enormíssimo diâmetro todo igual de baixo a cima e uma copa
farta, pequena e redonda que figurava um cogumelo de linhas geométricas,
impenetrável aos raios de sol e à claridade que vinha do alto, tão espesso era
o emaranhado da folhagem. Uma coisa que muito admirou o biologista foi a
postura dos ramos, todos eles saindo lateralmente do topo do tronco, tal qual
os raios da roda duma carroça, formando-se a folhagem em abóbada quase
perfeita, no interior da copa. Aí se deteve uns momentos, fazendo um esboço da
árvore e tomando notas. Os outros exploradores avançaram até ao alto duma colina
próxima, donde se descortinava o resto da paisagem. A impressão deixada por
aquele colosso de linhas esculturais, mantinha-se na mente, mas era preciso
avançar. De resto, ainda antes do desembarque, já alguns se sentiam fascinados
pelas suas silhuetas destacando-se na mata dos rochedos costeiros do
promontório aonde haviam chegado.
Mal arribaram à crista do morro, todos
se estacaram petrificados de emoção, os queixos bicudos erguidos temendo e
desafiando o silêncio daqueles ermos, como figurinhas de barro cheirando a
vertigem do tempo e a singularidade insólita daquele momento único. Daí se
desfrutava uma vista impressionante que fez desenfrear a pulsação dos
presentes. Uma enorme planície quase completamente desbravada e calva, fazendo
a espaços lembrar o restolho duma seara, e centenas, senão milhares!, de
árvores dominadoras e esculturais salpicadas ao acaso pelo espaço aberto, até
perder-se numas outras longínquas colinas cobertas de verde-malaquite espesso.
Para a direita, o rio. Para além do rio, delimitando a margem mais afastada,
uma escarpa quase a pique, marcando o fim do promontório enorme, que só se
desvanecia no gris das serras.
- Aqui temos o primeiro sinal de
gente! -
exclamou o biólogo, contendo a emoção.
em A FEBRE DO OURO, pág 39
Venho para deixar te um abraço amigo poeta.
ResponderEliminarUm abraço da amiga..Evanir.