O caso era intrincado demais. Não era
possível saber de que eram feitas as esferas, nem para que serviam.
- Não me admirava nada... que fossem de prata...
- Quê?... - gritou o comandante. - Prata!?...
Para o geólogo dificilmente seria outra
coisa: crómio, aço inoxidável, ou alumínio, por exemplo... já que esse metal
nem era conhecido dos físicos (ou dos alquimistas?) do planeta da e de Eridanus. Por essas alturas, conheciam ainda menos elementos
que os sessenta com que o sábio Mendlief estabeleceu a famosa tábua que na
Terra traz o seu nome. Tampouco o mineralogista poderia referir a útil
manganina, ou a brilhante alpaca - a suprema mistificação da prata!... -, essa especiosa liga de cobre, zinco e níquel, com
que (muito presumivelmente... se me permitem...), um dia... uma certa burguesia
do planeta, pretenderá iludir com terrinas e garfos... a sua condição rasca,
mediana!...
- Prata?! - o capitão deu um salto, meio esgazeado - É isso! Prata!...
- berrou ele. E depois virando-se repentinamente para o cartógrafo. - A estrada de prata... lembra-se?
Um súbito mas diferenciado frenesim
invadiu os membros do grupo. Não era para menos, a situação em que se
encontravam, pese embora a rudeza e a ignorância dos marujos (e do próprio
capitão), gente de mais ferro e fogo do que de fascínio pelo etéreo, pelo maravilhoso desconhecido de mundos de outro
mundo.
Avançaram, pois, agora sem tantas
cautelas, hipnotizados pela ideia da prata, seus desígnios e proventos. Havia
que dar-lhe prioridade absoluta. O cartógrafo teve a sensação de sentir uma
súbita luva de veludo a passar-lhe pela cara, mas logo - científica e filosoficamente - considerou que isso era apenas um frémito de emoção a
perpassar-lhe pelos nervos superexcitados, ante a visão estonteante dum quadro
irreal. Para que quereria, aquela gente,
quatro bolas de prata, em cima duma árvore? Mas...seriam mesmo de prata, tão
resplandecentes, sem sinais de oxidação... ao ar livre?... Que estaria por
detrás de tudo aquilo? Fustigavam-lhe a cabeça, uma enormidade de pensamentos,
todos ao mesmo tempo, entrelaçando-se, revirando-se, sobrepondo-se em turbilhão
e, do caos organizado da resposta, pensou nos deuses: o supremo mítico, por
excelência. Pôs a hipótese dum templo. Mas porquê a prata - se de prata se tratasse... - e não o ouro reluzente que ofusca o olhar, como o Deus-Sol?... E porquê quatro esferas? Porque
não... uma só?... Uma só divindade, a que presidia aos destinos do Mundo onde
nascera? Seriam deuses menores... se é que de deuses se tratava?...
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