segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O VAZIO CÓSMICO

            
Durante séculos o homem viajara pelo interior do Sistema Solar, estabelecendo bases definitivas na Lua, em Marte, em Ganimede e em Titã, o satélite de Saturno. Aprendeu muito, sem dúvida! Aprendera sobretudo uma coisa – evidente antes do evento generalizado dos satélites artificiais: a vida humana é curta e as distâncias galácticas não se compadecem disso. Mesmo no interior do sistema planetário, as viagens até aos mais remotos planetas, levavam anos, senão décadas! Encarar a perspectiva de demandar outros mundos doutras estrelas, levá-lo-ia a ter de tornear a dificuldade de permanecer longe da Terra, durante séculos ou milhares de anos.                      
Teria o homem de ficar para sempre confinado fisicamente ao seu próprio Sistema Solar? Seria essa a verdadeira dimensão de si mesmo, a sua única missão cósmica? Ou seria possível vencer o tempo e a distância? Os astrónomos, os astrofísicos e os engenheiros espaciais julgavam que sim. Mas - essa era a convicção de muitos -, teria de decorrer mais um milhar de anos, até que fosse possível viajar para as estrelas.
Quanto tempo tinha passado desde a certeza da possibilidade de viajar no mar-oceano, no século XIV, de Lisboa a Calecut, até que, tal, viesse a acontecer? Quantos cabos tinham sido vencidos, quanta tormenta, quantos monstros do limite dos horizontes, "quantas lágrimas vertidas no mar salgado!..." ?
Os ensinamentos do passado, contadas ou descontadas as suas verdadeiras proporções - e aqui a relação entre essas proporções era gigantesca -, ajudavam-no, mesmo assim, a alimentar esperanças; mas também a ter receios fundados. Os navios que cruzavam os mares, desde Cheng Ho e os Indonésios, no Oriente, passando pelos Cartagineses, os Fenícios e o mítico Ulisses, ou as naus do Gama e do Magalhães, acabando nos mais velozes paquetes que redescobriam os encantos dos Mares do Sul e a brancura ácida da Antárctida, ou os aeroplanos que desde o capitão Wright até aos ultra-sónicos capazes de dar a volta ao Mundo em poucas horas, pouco serviam - apenas o suficiente, para os eternos sonhadores do mirífico...-, para induzir suposições, neste contexto. Uma coisa é navegar pelo fluido azul da concha do mar e do céu, e mesmo pelo circunscrito espaço interplanetário, a outra é enfrentar o vazio incomensurável dos desertos cósmicos! As primeiras viagens pelo mar tinham sido feitas exactamente à dimensão do Homem, ao limite das suas capacidades, da sua persistência e do seu querer; as galácticas, exponenciavam exorbitantemente os limites humanos, não os da razão e da vontade, mas os do corpo perecível feito de água e cinzas.
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em A FEBRE DO OURO, pág 129

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