domingo, 30 de junho de 2013

SAPIENS ALFA E SAPIENS BETA


- Quer isso dizer que os cientistas da A.E.E.A. confiam cegamente nas capacidades e nas decisões dos dois computadores?
- Ah, sim! É como se dois dos nossos melhores... viajassem a bordo!
- Há uma outra pergunta que queria fazer-lhe... se me permite abusar tanto do seu precioso tempo...
Ante um sinal franco de aquiescência do sábio, o jornalista indagou sobre a razão de sempre se referirem ao segundo e terceiro planeta, e nunca lhe terem atribuíram nomes.
- Apesar de ser um detalhe sem grande importância, o assunto foi muito discutido. A questão é esta: a equipa de chineses que primeiro detectou clorofila na zona vital da e de Eridanus, atribuiu um nome ao planeta que deveria ser o responsável pela clorofila. Chamaram-lhe jade... em chinês, claro! - parou a interrogar-se. - Li algures como se diz, em cantonês, essa pedra oriental por excelência... mas neste momento não consigo lembrar. Ah!... Deixe ver... fei, ou tei tchau ioc... ou qualquer coisa parecida... - depois com um aceno afável. - Mas terei muito gosto em procurar o nome correcto para si... - sem esperar resposta do interlocutor, continuou: - No entanto, depois da descoberta da clorofila no outro planeta vizinho... a palavra perdeu consistência... Isso já foi há mais de meio século, não esqueçamos! Parece que chamaram Turquesa, a esse segundo planeta... e que depois ficaram em grandes dúvidas quanto às denominações... Muitos argumentavam que os nomes deveriam ser trocados, imagine!... A confusão aumentou quando uma série de leigos se pôs a discutir a cor do jade e da turquesa, se o verde, se o verde azulado... ou o azul esverdeado e as suas composições químicas, calcule!... Um que cristaliza no sistema ortorrômbico, o outro que cristaliza no triclínico, um que é um fosfato de alumínio, o outro um metasilicato de não sei quê...  O grau de pureza que deveria ser tomado como ponto de referência e... outras chinesices do género!... Imagine agora o que foi quando as seitas religiosas, os ortodoxos, os tradicionalistas e os fundamentalistas se meteram no assunto... trazendo à cena uma espécie de jade muito rijo, o diorito maori, que em tempos remotos servia para fazer armas de guerra, e se puseram a sentenciar, eles também, sobre conceitos de "pureza", extrapolando a partir dos respectivos contextos físicos, mágicos, astrológicos e religiosos... À medida que os séculos vão passando, parece que há cada vez mais gente a endoidecer... sabe! - desabafou.
- E de lá para cá não se obtiveram outras precisões acerca da evolução biológica desses planetas, segundo julgo saber... – disse o jornalista, em jeito de comentário, procurando obter outras revelações.
- É verdade. Conseguimos melhorar o nosso conhecimento em relação a muitos parâmetros, mas nada avançámos no que respeita à percepção da vida. Ficamo-nos pela convicção generalizada de que ela forçosamente existe, mas não soubemos mais nada. Enquanto algum génio não aparecer por aí com um novo método de pesquisas...
- Ou enquanto a S. Gabriel não nos enviar notícias...
- É isso. Em breve o saberemos. Ah! - exclamou o astrofísico. - Não respondi à pergunta... sobre o nome a dar aos planetas...
- Pois não...
- Então aí vai... Será a S. Gabriel a atribuir esses nomes!
- Não podia deixar de ser!... - exclamou o jornalista, com entusiasmo. - Como fizeram os navegadores  que descobriram ilhas e continentes virgens!...
A entrevista ia chegando ao fim.
- Julgo essa decisão bem consentânea com a vocação dos descobridores... - rematou o astrofísico, estendendo a mão em jeito de quem sela um compromisso através dos mares ou dos céus, unindo dois mundos.
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em A FEBRE DO OURO, pág 178

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