(…)
No
outro dia, logo pela manhã, procurou o sábio das pedras e o cartógrafo. Tinha
de falar com eles. Precisava de saber, o mais depressa possível, se um ou outro
tinham algumas ideias, que fossem úteis e que lhe escapassem. Havia muita coisa
que não compreendia e talvez eles pudessem aventar algo sobre as causas e os
termos do desastre da expedição nocturna. Confiava neles. Confiava neles quando
se tratava de ter ideias sobre o que lhe parecia incompreensível, mesmo se – na
circunstância – tanto um como o outro, não tivessem vivido a parte mais
dramática daquela aventura terrível, tendo ficado na retaguarda e embarcado –
como tinha sido decidido antecipadamente, valha a verdade... – logo aos
primeiros sinais de perigo. O sábio das pedras ainda estivera junto do primeiro
grupo dos garimpeiros, para poder aperceber-se da quantidade total do oiro do
rio, mas retrocedera de imediato, quando se ouviram as primeiras setas e tiros,
sem poder ver fosse o que fosse.
«Ainda bem que assim foi!... Que préstimo teriam aqueles dois trastes
velhos, que até pareciam ter medo só de tocar nas armas... no meio daquela batalha... contra fantasmas?»
Deu
com eles debruçados na amurada do navio, olhando o mar e a distância, onde há
muito a Ilha das Árvores se sumira. Estacou atrás deles, que pareciam absortos
e nada diziam, não parecendo ter dado pela sua chegada, nem pela súbita azáfama
dum moço de convés baldeando o tombadilho assim que viu chegar o comandante.
«Que estariam eles a pensar?»
Ficou uns momentos
sem saber por onde haveria de começar, particularmente por causa do cartógrafo
que dera mostras de ter adivinhado aquele drama, quando foi da questão das
bolas de prata. Lamentou não ter-lhe dado ouvidos. O velho tinha mesmo razão. O
cepo cortado e as esferas luzidias poderiam ser um altar qualquer a um deus
desconhecido. E profanar um templo sagrado é coisa que sempre faz transtornar
os espíritos mais pacíficos. (...)
em "A Febre do Ouro", pág 126
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