14 – O Regresso
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"... Vindos uns dos outros, os habitantes
das diversas ilhas, sofrem de algumas modificações
das diversas ilhas, sofrem de algumas modificações
no decurso da sua descendência"
Darwin (1868)
Darwin (1868)
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Nessa mesma noite, o capitão-mor mandou içar as
velas, levantar ferro e zarpar.
Invadia-o uma profunda tristeza e uma grande
frustração. Como tinha sido possível tudo aquilo? Sentia a cabeça a andar à
roda, uma navalha cortante de angústia que lhe subia do peito, um vazio que lhe
apoderava o corpo e o imaterializava. Nunca, em tempo nenhum, experimentara uma
sensação tão cruel de derrota, um desespero de alma, tão miserável e fundo, no
ápice das grandezas que sonhara. O destino lhe despedaçara as certezas mais
claras, o deslumbramento mais límpido. Vira o oiro como nunca vira ou imaginara.
Tivera-o a seus pés. Tomara-lhe o peso e a embriaguez. Fascinara-se da sua
realidade tangível. E perdera-o para sempre..
De onde em onde parecia que o sangue frio
voltava, que a força interior dada por tantos perigos antes corridos e vencidos
em guerras e tenebras, lhe aligeirava a angústia. Mas logo, quando retratava
aquele rio cheio de oiro e o fantasmagórico lapso de tempo onde tudo ficou
perdido sem remédio, sentia vontade de chorar - uma grande e inexplicável vontade de agarrar-se a alguém e
chorar, num choro inconsolável de criança inocente e infeliz. Não se lembrava
de ter-lhe acontecido uma coisa assim, na sua vida! E já tinha passado por
tantas balbúrdias e desastres! Tantos sonhos e pavores! Tanta mágoa e morte! Já
tinha visto outros dos seus homens perecer nas sangrentas batalhas navais
contra as gentes do Norte - aquando da Guerra da Independência - entre a
fumarada das bombardas e a algazarra das manobras, entre sangue e sangue, entre
alcazins e raiva. Vira o primeiro e formoso veleiro que comandara afundar-se a
poucas braçadas da costa, despedaçando-se contra rochedos familiares, sem,
contudo, poder evitá-los, desgovernado e à deriva, pela fúria inaudita do vento
e mar, sem deuses ou demónios que o pudessem valer; já mesmo, duma vez, se
deixara infantilmente apanhar, desarmar e acorrentar que nem um rato, sentindo
uma grande vergonha surda pela humilhação a que fora sujeito. Mas nada parecido
com aquilo! Haver desembarcado, por milagre ou acaso, mesmo em cima duma mina
de oiro e não poder arrancar-lhe senão meia dúzia de míseras pepitas que
acabaria por perder na desordem da debandada, quando parecia ter a fortuna e a
glória a seus pés! Pensou, num ápice, no Deus-Sol - a quem
encomendara a alma... - e na estrada de prata, afinal de tão mau agoiro... Mas logo
deles desviou o pensamento, temente e pio. Era nestas ocasiões que sempre
redescobria que afinal não era herege nenhum! Tinha os seus princípios! Os
religiosos e os profanos. E os seus princípios religiosos iam até onde acabava
a reinança sobre as atribulações da vida trivial e terrena, ou até - aqui
assustou-se e estremeceu, mas logo se aprestou a ignorar a sequência do
raciocínio - sobre a concha já familiar do oceano, mesmo de noite... Ao
invés, nas situações mais terra-a-terra, nas situações mais desabusadamente
animalescas - felizmente as mais comuns... - nunca se lembrava dos deuses nem das suas leis. O que
contava era a espada. E no entanto, como e porquê, teria acontecido tudo
aquilo, no Reino do Ouro, da Ilha das Árvores? Teria interpretado mal os
sinais? Decididamente - pensou - perdia a lucidez quando roçava os contornos do que estava
nas alturas e do que jazia nas baixuras!...
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Em “A Febre do Ouro”, pág 125, ed Litoral
Pois é! Belo texto e nele há dias que nos sentimos assim!
ResponderEliminarProcuramos chão e não o encontramos, o céu desaba e nuvens passam lentamente...
Ao certo, vc é um excelente contista!
Ah sim, realmente, as pessoas hoje em dia não se ligam na mitologia grega-romana, Zeus e Jupiter que o diga.
No Sibarita sempre coloco textos envolvendo esses assuntos da história, da mitologia e me surpreende o desconhecimento... Uma pena!
O Sibarita