domingo, 25 de novembro de 2012

No Areal da Praia


Ali, naquela terra recém-descoberta, cheia de riquezas, tudo parecia perdido. Agora, nem tempo tinham para enterrar os mortos, ou levá-los para "fazer o funéreo enterramento onde dos peixes sejam alimento..." que é o destino dos que fizeram do mar o seu reino de eleição.
Decidiram embarcar o mais depressa possível, não fossem eles voltar, atacando por várias frentes e mesmo pelo areal da praia, o que seria catastrófico.
Saltaram para dentro dos botes, nos quais já estavam os dois sábios e o escrivão: este, que se aventurara até ao limite da refrega para bem registar as impressões vividas naquela noite fatídica mas prodigiosa de equívocos e estranhezas, tão do agrado de leitores da História; aqueles, não tendo ido mais além do que voltar a pôr os pés naquela terra memorável que os havia de conduzir a engenhosas suposições e ao raiar de mistérios nunca dantes desvendados ou imaginados. Regressaram às barcas.
A expedição nocturna tinha sido um autêntico fracasso. Todos se mostravam muito cansados, remando com dificuldade; e o capitão, sem dizer palavra, apenas olhava para o vazio negro onde ficava a Ilha das Árvores e o seu sonho.
As mesmas estrelas brilhavam, frias e trémulas, no grande silêncio abstracto. Ao alto, naquele céu milenar e ainda mais ininteligível, as duas pequeníssimas luas pareciam duas escamas de prata, desafiando o oiro reluzente da claridade.
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em "A Febre do Ouro", pág 129

1 comentário:

  1. Oie meu amigo querido; pela página publicada, se percebe o quão interessante é o livro. Aguçou a minha curiosidade para saber além...
    Boa semana! Beijos

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