segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ARQUÉTIPOS


As profundezas do subconsciente, movidas pelos arquétipos enraizados na história genética dos seres inteligentes do planeta, traíam-no de vez em quando.
- Tem alguma razão para pensar que não eram os mesmos?... - perguntou o cartógrafo, ignorando os desvios  do subconsciente do cidadão comandante naval, e mesmo a sequência lógica que encetara quando foi interrompido.
- Os mesmos... como...?
- Tem alguma razão para pensar que os que nos atacaram de dia, não sejam os mesmos que nos atacaram de noite? - repetiu.
- Não. Não tenho.
- Tem a certeza?
- Como posso saber? A certeza não tenho...
- E então...
- Então... o quê? O que quer que lhe diga? Julgo que fossem os mesmos... - desdisse o marujo, após uns instantes. - O que eu duvido é que sejam parecidos connosco...
Para ele, toda a questão residia neste ponto. A frustrante experiência da véspera mostrara-lhe a grande dificuldade - senão a impossibilidade - em lutar contra os utentes das árvores. De dia não os vira. De noite pareciam sombras, mas atiravam com muita pontaria as suas setas envenenadas. Não tivessem eles cometido o erro de ter atacado em grupo, de um só lado... e não teria ficado ninguém para contar fosse o que fosse... Veio-lhe à cabeça que o capitão seu homólogo descobridor da Ilha dos Pássaros, teria chegado, também ele, à Ilha das Árvores, na segunda viagem, e que toda a sua tripulação tivesse sido massacrada nas margens do rio. Podia ter acontecido. Qualquer um raciocinaria da mesma maneira... Ainda bem que trouxera os sábios. Sem eles, talvez tivesse cometido o erro de desembarcar de noite, com toda a tripulação, para sacar o ouro e as bolas de prata, sem precaver-se contra eventual ataque, e poderia ter sido um desastre completo.
Achavam-se num beco, ilhados, embora a galera já se encontrasse bem ao largo. De novo, o mesmo moscardo esbarrava no indelével vidro transparente.
 .
em A FEBRE DO OURO, pág 163

4 comentários:

  1. interessante. Boa leitura, certamente. Beijo.

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  2. Muito inteligente, me deixaste curiosa para ler o restante. Esse dialogo me fez lembrar de minha infância em que eu via alma penada nas sombras da escuridão, senti meti muito medo e ainda tenho não posso sair numa rua escura.
    Adorei sua visita, o frango ficou uma delicia quase que não sobra nem os ossos. ahahaha
    Tenha uma semana iluminada.

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  3. Olá "Senhor" Vieira Calado,

    Gosto muito de o ver cá "pras minhas bandas".
    Ora, gostei muito do primeiro parágrafo do seu texto, mas como não conheço(o melhor será comprar o livro, pensa o autor) a obra, o romance, a história, sinceramente, não percebi onde quer "chegar". Não é Literatura banal nem popular e o que escreveu é uma narrativa aberta, portanto tem os fins que o leitor lhe quiser dar.

    Agradeço o seu comentário, e respondo-lhe que, embora seja católica, o meu coração não tem religião nem estado civil.
    Vá aparecendo, que farei o mesmo. Obrigada.

    Abraço da Luz.

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