sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A FEBRE DO OURO (excerto IV)

Agora que já era possível ver com toda a nitidez o conjunto das quatro esferas assentes no tronco cortado a meio, o capitão e o mineralogista tinham tomado a dianteira, desfazendo a ordem da formação rígida. A emoção conduzia a dispersão. Acelerava-se a entropia do grupo, conforme as leis da física. Só a voz do chefe reconduziria ao rearranjo programado, embora à custa dum novo extravasamento de energia e a consequente tensão. Seguiram pois, na frente, os dois personagens mais directamente interessados no desvelar da aparição estranha, mas prometedora. Com motivações diferentes... já se vê!... Um, olhava para o chão, o outro, o ar, cheirando as mais pequenas modificações do vento e da distância que os separava das bolas.

Apenas o naturalista se detinha observando o resto da paisagem, as árvores e as ervas, mais estas que essas, colhendo exemplares exóticos de folhas e caules em tufos isolados, soprando a terra, a ver se via sinais de sementes, gramíneas ou leguminosas. E já farejava odores de abacate, suculenta papaia, pitaia, ou finíssimo litchi!... Os restantes caminhavam em frente, hipnotizados pelas esferas que fulgiam, olhando de soslaio as árvores majestosas e dominadoras, mas evitando fixá-las, por um receio oculto e fundo.

Foi então que, subitamente, com um braço, o biólogo parou e fez um gesto para o esquadrão estacar, ao mesmo tempo que os homens-d' armas assestavam nervosamente as espingardas para onde ele apontava:

Uahk!... Vejam essa árvore!

À pouca distância a que se encontravam do colosso vertical e liso, podia então descortinar-se qualquer coisa que os fez emudecer e reter o bafo, pondo-se todos de sobreaviso, por impossibilidade de identificação imediata, do que viam.

– Que diabo é aquilo? – perguntou o chefe, pouco seguro de si.

– Gente! – exclamou o biólogo.

em A Febre do Ouro, ed. Litoral, pág 51


1 comentário: