terça-feira, 8 de novembro de 2011

Na ILHA DAS ÁRVORES (3)


(...)
Fez-se um escuro completo, só interrompido pelos clarões dos disparos, no meio da fumaça da pólvora e dos óleos, que dava à cena o aspecto fantasmagórico duma litografia obscurecida por um nevoeiro victoriano.
Apenas as estrelas brilhavam, como desde sempre. Por cima deles, entre miríades de outras, luziam Rastaban e a pálida Eltanin, três vezes mais longínqua (na Terra identificadas com a cabeça do Dragão) que, segundo a lenda grega, guarda a árvore das maçãs douradas; ou – para os Babilónios –, Tiamat, o dragão, que foi derrotado pelo deus Sol, sendo a cena representada pela constelação de Hércules. Mais para o lado, Tuban, outrora no polo Norte da Terra, que aparentemente terá guiado os egípcios na orientação das pirâmides. Na constelação da Lira, via-se ainda a refulgente Vega, dum azul límpido e branco de água marinha e, por perto, Deneb (simbolizando um pássaro, um cisne branco voando nos mares celestes!...), a indicar o caminho de outros mundos. A atenta observação mostrava também a Polaris que não indicava nem Norte nem sorte, nem coisa nenhuma, próxima duma Cassiopeia apenas ligeiramente distorcida; e a conspícua Mizar, que os árabes viram que são duas. Os deuses menores da ɛ de Eridanus pareciam suspensos, siderados conforme a sua condição de estrelas, impotentes.
– Fogo! Fogo! – gritava o chefe.
E os marujos disparavam, ensurdecendo os ares. Disparavam ao acaso e com grande dificuldade em remuniciar as espingardas, para a frente e para os lados, em ondas sucessivas, como um electrão perdido no seu campo aleatório, agora acompanhados pelos garimpeiros que puseram de lado pás e crivos, tendo finalmente conseguido operar as armas trazidas a tiracolo.
Ninguém via o que se estava a passar, todos se guiavam o podiam pelo ouvido e pelo acaso, feitos de imprecauções e pragas, mas via-se nitidamente que os índios faziam uma perfeita razia nos da frente.
– Retirar! – berrou o mestre d’ armas, que fora o primeiro a retroceder, ante o inevitável com que se confrontavam.
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em A FEBRE DO OURO, pág 86

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