segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A FEBRE DO OURO (2)

 NA ILHA DAS ÁRVORES
 (...)
Os dois veleiros e a barca de mantimentos fundearam a cerca de meia milha das arribas, distância mínima julgada segura para o caso de haver rochedos submersos ou baixios. Isso acontecia em lugares bem específicos das costas dos Reinos, tendo o capitão-comandante tomado essas cuidadosas, meticulosas providências de navegação, aconselhado pela sua experiência e conhecimento. Como seria ali, não o imaginava. E não quis arriscar. Tinha a consciência de estar num sítio virgem, de aparência estranha, desconhecido de todos os navegadores. Talvez aquilo fosse esse mundo novo de outro sol. De resto, nem dera por outro Sol... Mas tinha dificuldade em perceber se assim era. Na verdade, que poderia ele saber de Mares do Sul, onde pululam corais laboriosos e coriáceos? Da imensa diversidade das formas vivas que povoam os universos das estrelas? Do hidroxilo e das moléculas de metanol, aldaíde fórmico e cianogénio que vagueiam no gás interestelar das galáxias IC 343 e NGC 253, a dez milhões de anos-luz e que, com o rodar dos eões, se podem constituir nos tijolos do ser biológico? Que poderia ele saber da programada simetria da água, que só deixa exactamente passar um impulso eléctrico, de hidrogénio a hidrogénio, para permitir o fluxo vital, o frenesim da descoberta, o encantamento da vida? Ela é bem cheia de surpresas, sem sombra de dúvida! E os súbditos do Reino, estavam apenas no limiar dessas surpresas.

Se navegaram para Leste, isso ficou a dever-se unicamente a uma feliz decisão do capitão, fruto de elegante associação de ideias, por lembrança do relato que ouvira da descoberta da Ilha dos Pássaros. Aí, o lado esquerdo indicara o bom bordo!
(São assim estas coisas tão simples, deliciosamente pueris, meramente subjectivas e metafísicas, – e no final de contas tão sábias e enternecedoras... – apanágio dos intrépidos navegantes de todos os mares desconhecidos...)
pág 40

4 comentários:

  1. bombordo vim aqui encontrar!

    entre poemas e estrelas
    hoje escolhi a prosa

    um abraço

    manuela

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  2. ... e são assim as coisas tão simples... - ... no final de contas tão sábias e enternecedoras...!

    tão bom passar pelas tuas leituras, poeta, nem sei porque tenho andado tão longe!

    bjs.
    obrigada pela tua presença lá no meu canto [um tanto parado nestes últimos tempos}

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  3. Vieira, gosto de ler seus contos e poemas, tenho glaucoma e muitas vezes não consigo enxergar as letras minúsculas demais.
    Depois volto.
    Beijos!

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    1. Voltei para te agradecer pela orientação.
      Muito obrigado.
      Beijos!

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