terça-feira, 20 de setembro de 2011

NA ILHA DAS ÁRVORES


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O naturalista foi o primeiro a reagir.
– Como é que isto pode ser? – interrogou-se, atónito, como o arcbispo Ussher que tivesse dado, de caras, com o austrolopitecus.
Então, sem esperar resposta que ninguém saberiam dar, dirigiu-se, a passos largos, direito à fera morta.
– Vocês os dois! – mandou o capitão. – Acompanhem-me!
Todo o resto do esquadrão se encontrava agora parado, sob os escaldantes raios solares daquele mundo extravagante, atentos a um infeliz desenlace que pusesse em perigo a vida duns e outros – dos que de perto tinham ido ver a besta... e deles próprios.
De surpresa em surpresa, no implacável sentido da seta do tempo, se ia fazendo a história daquele dia, prelúdio de dramas e maravilhas – "todas as balbúrdias da alma..." – que haveria de florescer e ensombrar o planeta azul da ɛ de Eridanus. Primeiro fora o Sol; Sol que nunca ninguém vira tão alto e tão quente. Depois as árvores. E agora – para aumentar a confusão dos mareantes e dos sábios –, aquela fera desconhecida no Mundo donde vinham (que não exibia, nem o exotismo, nem os traços de mais de cento e quarenta milhões de anos de história réptil, nem os três olhos da neozelandesa tatuara... ou as seis patas do thoat marciano), tinha esta marca única, inacreditável. Atacava em pleno dia!
Sem eclipses totais, os eridanus nunca poderiam ter visto os demónios a tentar devorar o Deus-Sol, como o Bathara Kala dos filipinos, ou Keta e Rahu que, na mitologia hindu, engolem o Sol, enfurecidos – uma boa achega à teoria da grande luta entre a claridade e a escuridão, apenas aflorada (mas não confirmada), quando uma das quatro pequenas luas cavava um minúsculo círculo negro, no disco solar. Tais feras seriam o demónio filipino e eles próprios a expressão acabada da luz nascente do espírito e do entendimento!
(...)
em "A FEBRE DO OURO", pág 58

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