Por esse tempo, na Terra, construíam-se os primitivos observatórios providos de óculos capazes de ver para além do que é possível ver de humana vista. Galileu desvelara os primeiros segredos de Júpiter e seus satélites. Inspirado em Platão e Pitágoras, o matemático Kepler deduzira que Deus era um confrade, um geómetra!, e Tycho Brahé, de tanto olhar, compreendeu ser o Espaço mais fundo que a lonjura do pensamento humano e do seu sonho. As estrelas e as constelações, o Sete-Estrelo, a que os maias chamavam Tzab (a cobra-de-assobio), Perseu e Hércules, Aldebaran, o olho do toiro dos árabes, e até planetas, como a bela, lasciva Vénus dos latinos, tomada por um deus-mau... no Yucatan, ou o sombrio Saturno – só para citar uns poucos da ninhada – iam perdendo o lustro de criaturas divinas que se entretinham, no seu devaneio ou solidão, a lançar deleites ou maldições, sobre a Terra.
O homem cansava-se da destemperança dos deuses, do seu fútil jogo de marionetas. E, de tudo o mais, quanto se podia ver e perceber, e de todo o entendimento do que era para ser entendido, o nosso Sol igualmente se reduzia à condição de mera bola de fogo, como o velho sábio jónico antevira, um milhar de anos antes (o que, aliás, lhe valeu ter sido desterrado, pelos insaciáveis senhores do trono!)
E assim, todos estes sóis regionais – estes deuses de fogo que ardem em cinzas a nossa passagem breve –, o querido e formosíssimo Ahura-Mazda das minhas raízes indo-europeias, o Kinich-Ahau, dos maias, o sumério Shamash, cujos seguidores o julgavam dormir nas profundezas do Norte, esse esplendoroso e esbelto Amaterasu, brilhando em céus de púrpura e jade, a Oriente, ou o deus dos aztecas – este, um disco redondo, em oiro maciço... de uma braça de diâmetro! –, tinham, finalmente, sido relegados para os domínios do mito.
Inexoravelmente.
Mas estava-se ainda longe de pensar em viajar para as estrelas.
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em "A Febre do Ouro", pág 10
O eterno Deus, a força maior, O inexplicável a ciência humana, que dá vida e tira vida de estrelas, tudo sob seu controle e ordem...penso eu, Que Deus enciumou-se dos deus humanos, que com seu egoismo toma as suas estrelas pra sí.
ResponderEliminar4º mandamento em êxodo - Não farás para ti imagens de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos.
(em algumas traduções o zeloso é dito ciumento)
Lindo.
ResponderEliminarAssim, gosto!
Excelente!
ResponderEliminarPisar em novo terreno é uma grande experiência.
Parabéns, poeta!
Beijos
Mirze
Gostei do texto. Espero e desejo que o seu novo livro seja mais um sucesso.
ResponderEliminarUm abraço e tudo a correr pelo melhor.
Que maravilha, poeta.Encantada com as tuas palavras... Como faço para comprar esse livro?
ResponderEliminarSó para lembrá-lo, sou brasileira.
Beijo e muito sucesso a vc.
Obrigada pelo comentário, a recíproca é verdadeira!
ResponderEliminarParabéns pelo trabalho lapidado com pesquisa, filosofia e poesia!
Boa sorte!!!!
Abraços
Muito bom!
ResponderEliminarCarla
:D
parece-me desde já muito interessante!!
ResponderEliminarnão posso estar na sessão, mas vou procurar o livro
Um abraço e muito exito
Muito interessante!
ResponderEliminarCarinhoso abraço.
Os homens letrados não tem paciência com Deus. rsrrs
ResponderEliminarBeijos!