sábado, 30 de julho de 2011

(...)
Mas ao nascer do sexto dia, sendo o vento dócil e a navegação calma, o gajeiro gritou finalmente do cesto da gávea, no mastro mais alto da caravela:
Terra à vista! Terra à vista!
Foi um grande alvoroço. Um caos de contentamento do capitão e dos outros que, no entanto, estavam bem longe de perceber o significado ímpar do momento, o valor inestimável da sua audácia e da ciência dos sábios!
E muito menos da odisseia e dos dramas que se iriam seguir!
À esquerda, relativamente ao rumo do navio – em silhueta nítida e negra da distância –, desenhava-se uma crista visível por cima da linha do horizonte, tendo todo o aspecto de ser terra firme. Os indícios eram claros: a minúscula fita branca de leite, que rodeava a ilha e a cingia, deveria ser a rebentação das ondas.
Era ao nascer-do-sol e por pouco a missão falhava. Teriam dado pela ilha se fosse noite escura? Provavelmente não!
Felizmente os ventos tinham sido favoráveis, o Deus-Sol aí estava a dar claridade ao "Mundus Novus", agora pela primeira vez visto pelos olhos das Gentes.
O sábio discípulo do sábio mais sábio da montanha alta, fizera bem as contas, deduzira bem o rumo certo por aquele oceano que figurava não ter fim, e merecia uma estátua em bronze na praça mais nobre da grande cidade-porto capital do Reino do Sul!
Fizeram um bordo à esquerda, direito a terra firme, e chamaram-lhe bom bordo, em língua das gentes do Mundo.
 (...)
em A Febre do Ouro, pág 27

2 comentários:

  1. quero comer esse livro, a cada postagem atiça a curiosidade...quando e onde? melhor faze-lo anexo a uma jangada.

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  2. Vieira embarque neste embarcação nos prelúdios e estou adorando.
    Beijos!

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