quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A CHEGADA AO NOVO MUNDO


Nenhum daqueles locais se prestava a um desembarque útil, de forma a avançar para o hinterland. Contudo, passada uma meia hora, acabaram por fazê-lo, à falta de melhor alternativa. O capitão decidiu tentar a sua sorte, ao aparecimento da primeira praia: uma pequena concha (a imagem sempre presente da sua concepção cosmológica...), como um bivalve lamelibrânqueo incrustado na rocha, levemente inclinado para diante, que tinha o ar apetecível dum oásis no deserto. O deserto era todo o resto da costa; o paraíso deveria ser lá cima, no meio das terras, conquanto se apresentasse tão emaranhado e tão espesso - onde apenas se distinguiam aquelas árvores singulares -, que poderia transformar-se num inferno verde e sufocante, nunca imaginado. Tomou assento num batel, com mais quatro dos seus e o biologista, e pouco depois saltavam em terra. Assim feito, ensaiaram o ritual antigo, dando graças ao oiro do Sol, por terem chegado; mas a cerimónia desluziu-se na exiguidade da pequena concha de areia. Logo ficou claro que era impossível subir por ali acima, pela garganta delgada que levava ao topo das rochas, donde escorria um fino veio de água.. Mas dela beberam deliciados, no melhor sabor de Sócrates, estonteados de ter os pés em terra, após tantos dias do balanço dos mares. E por aí se ficaram. Nem era possível fazer aguada, pela insuficiência do veio de água e mormente pela dificuldade em manobrar pipas ou tonéis, naquele lugar.
em A FEBRE DO OURO, Pág 43

4 comentários:

  1. Um conto fictício muito interessante Vieira
    parabéns

    ResponderEliminar
  2. Descobertas que trazem cautela e aventura.

    Beijo

    ResponderEliminar
  3. Para quem acabou de chegar do Peru e anda a ler "Los Últimos Dias de los Incas" este texto tem um sabor especial...

    Boa semana

    ResponderEliminar
  4. Leitura agradável e interessante!
    Bom dia nobre poeta!

    ResponderEliminar