Nenhum
daqueles locais se prestava a um desembarque útil, de forma a avançar para o
hinterland. Contudo, passada uma meia hora, acabaram por fazê-lo, à falta
de melhor alternativa. O capitão decidiu tentar a sua sorte, ao aparecimento da
primeira praia: uma pequena concha (a imagem sempre presente da sua concepção
cosmológica...), como um bivalve lamelibrânqueo incrustado na rocha, levemente
inclinado para diante, que tinha o ar apetecível dum oásis no deserto. O
deserto era todo o resto da costa; o paraíso deveria ser lá cima, no meio das
terras, conquanto se apresentasse tão emaranhado e tão espesso - onde apenas se distinguiam aquelas árvores singulares
-, que poderia transformar-se num inferno verde e
sufocante, nunca imaginado. Tomou assento num batel, com mais quatro dos seus e
o biologista, e pouco depois saltavam em terra. Assim feito, ensaiaram o ritual
antigo, dando graças ao oiro do Sol, por terem chegado; mas a cerimónia
desluziu-se na exiguidade da pequena concha de areia. Logo ficou claro que era
impossível subir por ali acima, pela garganta delgada que levava ao topo das
rochas, donde escorria um fino veio de água.. Mas dela beberam deliciados, no
melhor sabor de Sócrates, estonteados de ter os pés em terra, após tantos dias
do balanço dos mares. E por aí se ficaram. Nem era possível fazer aguada,
pela insuficiência do veio de água e mormente pela dificuldade em manobrar
pipas ou tonéis, naquele lugar.
em A FEBRE DO OURO, Pág 43
em A FEBRE DO OURO, Pág 43
Um conto fictício muito interessante Vieira
ResponderEliminarparabéns
Descobertas que trazem cautela e aventura.
ResponderEliminarBeijo
Para quem acabou de chegar do Peru e anda a ler "Los Últimos Dias de los Incas" este texto tem um sabor especial...
ResponderEliminarBoa semana
Leitura agradável e interessante!
ResponderEliminarBom dia nobre poeta!