quinta-feira, 1 de maio de 2014

4 bolas de prata


O caso era intrincado demais. Não era possível saber de que eram feitas as esferas, nem para que serviam.                              
- Não me admirava nada... que fossem de prata...
- Quê?... - gritou o comandante. - Prata!?...
Para o geólogo dificilmente seria outra coisa: crómio, aço inoxidável, ou alumínio, por exemplo... já que esse metal nem era conhecido dos físicos (ou dos alquimistas?) do planeta da e de Eridanus. Por essas alturas, conheciam ainda menos elementos que os sessenta com que o sábio Mendlief estabeleceu a famosa tábua que na Terra traz o seu nome. Tampouco o mineralogista poderia referir a útil manganina, ou a brilhante alpaca - a suprema mistificação da prata!... -, essa especiosa liga de cobre, zinco e níquel, com que (muito presumivelmente... se me permitem...), um dia... uma certa burguesia do planeta, pretenderá iludir com terrinas e garfos... a sua condição rasca, mediana!...
- Prata?! - o capitão deu um salto, meio esgazeado - É isso! Prata!... - berrou ele. E depois virando-se repentinamente para o cartógrafo. - A estrada de prata... lembra-se?
Um súbito mas diferenciado frenesim invadiu os membros do grupo. Não era para menos, a situação em que se encontravam, pese embora a rudeza e a ignorância dos marujos (e do próprio capitão), gente de mais ferro e fogo do que de fascínio pelo etéreo, pelo maravilhoso desconhecido de mundos de outro mundo.
Avançaram, pois, agora sem tantas cautelas, hipnotizados pela ideia da prata, seus desígnios e proventos. Havia que dar-lhe prioridade absoluta. O cartógrafo teve a sensação de sentir uma súbita luva de veludo a passar-lhe pela cara, mas logo - científica e filosoficamente - considerou que isso era apenas um frémito de emoção a perpassar-lhe pelos nervos superexcitados, ante a visão estonteante dum quadro irreal. Para que quereria, aquela gente, quatro bolas de prata, em cima duma árvore? Mas...seriam mesmo de prata, tão resplandecentes, sem sinais de oxidação... ao ar livre?... Que estaria por detrás de tudo aquilo? Fustigavam-lhe a cabeça, uma enormidade de pensamentos, todos ao mesmo tempo, entrelaçando-se, revirando-se, sobrepondo-se em turbilhão e, do caos organizado da resposta, pensou nos deuses: o supremo mítico, por excelência. Pôs a hipótese dum templo. Mas porquê a prata - se de prata se tratasse... - e não o ouro reluzente que ofusca o olhar, como o Deus-Sol?... E porquê quatro esferas? Porque não... uma só?... Uma só divindade, a que presidia aos destinos do Mundo onde nascera? Seriam deuses menores... se é que de deuses se tratava?...

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