Entretanto, a convicção generalizada (o secreto desejo, mais propriamente...) era de que se iria presenciar um
espectacular documentário, ao vivo, sobre plantas e animais exóticos. Ou (aqui
a esperança era ainda mais secreta), de que se iria assistir a um cenário de
ficção científica, com enredos improváveis ou impensáveis, protagonizados por
"não humanos" que, mesmo sem protagonizarem nenhum enredo no sentido
terreno do termo, revelariam o sentido da vida, os desígnios últimos do Deus
(ou Deuses) da Criação. Era lícito imaginar fosse o que fosse: homnídeos
macacoides e outros, temerosos da noite, porventura evoluídos a partir de ramos estéreis da grande árvore genealógica que, na Terra, rejeitou
para fora do reino dos eleitos o nearthentalis e o cro-magnon,
incapazes de olhar para dentro de si mesmos, e para fora, para o alto, e
descobrir a atracção sublime das Estrelas; humanoides parentes (ou imigrados?)
de gnomos, elfos, os blemmyae ressuscitados por Sheakespear, entes de
pé-de-cabra, cinocéfalos que respiram fogo, ou astomi, sem boca,
cheiradores de odores; bípedes com cornos ou unicornes, parcas, lobisomens,
valquírias, bruxas nojentas como baratas voadoras voando em vassouras saídas da
retorta dalgum alquimista em desespero de causa; querubins, semideuses menores,
romanos ou gregos; deídes arqueológicas votadas ao desprezo no Egipto ou na
Pérsia; tágides e sereias com que em tempos idos se recompensavam (ou se perdiam...)
guerreiros e navegantes; nereides, ciclopes da Odisseia e da Eneida,
serafins, diabos subalternos trabalhando por conta própria, a despontar para o
pensamento abstracto e já congeminando dramas de estarrecer, na terra e no mar;
criaturas outramente racionais ou infraracionais, de estruturas etéreas, quem
sabe se anjos, arcanjos ou demónios às ordens de outros Deuses e de outros Destinos
e - porque não? -, bichos menores ganhando foros de cidadania no panorama impar dos "sem alma".
Porém, uma vez desenrolados tais acontecimentos, projectados tais cenários (ou
cenários díspares, semelhantes ou dissemelhantes do que foi imaginado ou
inimaginado), seria de continuar a chamar-lhes ficção científica, ou ficção tout
court, olhando-os nos visores do planeta Terra?
Valia a pena esperar, que a espera era de ver o nunca
visto.
.
em A Febre do Ouro, pág 202
talvez só mesmo um E.T para nos tirar
ResponderEliminarda escravidão do nosso atual sistema
econômico.
por aqui já despertaram o gigante ...falta pouco, será?
abç