.
Quanto ao resto, o que tinha sido verificado e analisado dentro do Sistema Solar, nos longos estudos preliminares antes do lançamento da Eratóstenes, também deveria dar-se no espaço interestelar: fluxos súbitos de neutrinos, tempestades direccionais de raios x e gama, flutuações temporárias no contínuo espaço-tempo, dado por ondas cujo comprimento é de milhões de quilómetros, aumentos ou diminuições da temperatura cósmica remanescente e – as sondas Voyager já a haviam observado muito antes da Amundsen –, uma súbita onda de choque de raios cósmicos, onde o fluxo do vento solar deixa, por fim, de fazer-se sentir. A explosão duma nova ou a implosão duma gigante, nos confins do mundo, causariam alguns dos citados primeiros efeitos. Isso era previsível, durante os cinquenta anos da viagem. Mas não seria nada que não fosse detectado pelos espacio-observatórios espalhados entre o Sol e a Titã.
Uma certa ansiedade em saber o que aconteceria quando ela tivesse, de vez, vencido o gigantesco imã de atracção solar – passadas as nuvens de Oort, bem depois do sétimo ano após o lançamento da Eratóstenes – foi a única coisa que perturbou um pouco o sono dos seus mentores. Esse era o Cabo do Bojador do Cosmos! Mas a partir daí, entrava-se no oceano estagnado do espaço galáctico, onde só de milhões em milhões de anos, qualquer coisa pode acontecer. Os furiosos da ficção científica decepcionavam-se a cada novo boletim emitido desde a nave, pois não havia notícias nenhumas de que esta tivesse cruzado alguma outra, a caminho da amada Terra, ou doutros planetas, levando a bordo meia dúzia de extraterrestres, fossem eles o amável E. T. ou o vilão Darth Vater, Chuchunaas do frio Alasca, ou Sasquartchs do Kentucky e de New Jersey. Alguns sonhavam com a possibilidade de ter-se notícias do Abominável Homem das Neves, o exótico yéti da floresta himalaia de Shennongjia onde, de tempos a tempos, desce a passar uma temporada... Sonhavam, ainda, poder vislumbrar verdes criaturinhas adoradoras de dois sóis, vindas de Procyon – um dos cães da bela Diana, deusa da caça –, anjos seráficos da Grande Nuvem de Magalhães e da Andrómeda, Eloins das eras bíblicas, que desceram dos céus pela escada de Jacob, num carro tão brilhante que Ezequiel não soube dizer se era de crisolite, da pura pirite com que os antigos faziam espelhos... ou de ouro. Ou ainda, esses entes superdesenvolvidos e quase imortais, do bizarro planeta que volteia à roda da sextupla do Dragão e cujo deus era – num passado remoto – as seis faces dos sóis do sistema! Mas nada sucedeu.
Desde então, a nave seria perfeitamente autónoma e dependeria apenas do seu cérebro electrónico e da sua robótica. Seria inútil enviar-lhe uma ordem. Ela jamais a poderia receber. Libertara-se para sempre da tutela ou do jugo dos progenitores, os deuses que a tinham concebido e construído, que lhe tinham dado uma vida e um destino. Em contra-partida, seria ela a poder modificar o pensamento dos seres tecnológicos que ficaram no planeta azul, enviando-lhes informações deles desconhecidas, por serem pertença doutro Sol e doutros deuses. Contudo – julgava-se na Terra –, isso só aconteceria (se acontecesse...), já nas imediações da Estrela de Barnard. De resto, nada houve de significativo para registar. Os deuses – a existirem... – moravam ainda mais longe!
Restava aos cientistas – particularmente aos biólogos – esperar pacientemente pelos resultados da nova série de experiências a realizar com outras sementes e amêndoas, assim que a nave tivesse atingido o máximo da velocidade, estabilizando-a, bem antes do meio do percurso. Aí, a aceleração seria nula.
Os resultados foram sensacionais: elas germinaram e cresceram como se em igual cativeiro, nalgum laboratório da Terra!
.
em A FEBRE DO OURO. pág 123
Quanto ao resto, o que tinha sido verificado e analisado dentro do Sistema Solar, nos longos estudos preliminares antes do lançamento da Eratóstenes, também deveria dar-se no espaço interestelar: fluxos súbitos de neutrinos, tempestades direccionais de raios x e gama, flutuações temporárias no contínuo espaço-tempo, dado por ondas cujo comprimento é de milhões de quilómetros, aumentos ou diminuições da temperatura cósmica remanescente e – as sondas Voyager já a haviam observado muito antes da Amundsen –, uma súbita onda de choque de raios cósmicos, onde o fluxo do vento solar deixa, por fim, de fazer-se sentir. A explosão duma nova ou a implosão duma gigante, nos confins do mundo, causariam alguns dos citados primeiros efeitos. Isso era previsível, durante os cinquenta anos da viagem. Mas não seria nada que não fosse detectado pelos espacio-observatórios espalhados entre o Sol e a Titã.
Uma certa ansiedade em saber o que aconteceria quando ela tivesse, de vez, vencido o gigantesco imã de atracção solar – passadas as nuvens de Oort, bem depois do sétimo ano após o lançamento da Eratóstenes – foi a única coisa que perturbou um pouco o sono dos seus mentores. Esse era o Cabo do Bojador do Cosmos! Mas a partir daí, entrava-se no oceano estagnado do espaço galáctico, onde só de milhões em milhões de anos, qualquer coisa pode acontecer. Os furiosos da ficção científica decepcionavam-se a cada novo boletim emitido desde a nave, pois não havia notícias nenhumas de que esta tivesse cruzado alguma outra, a caminho da amada Terra, ou doutros planetas, levando a bordo meia dúzia de extraterrestres, fossem eles o amável E. T. ou o vilão Darth Vater, Chuchunaas do frio Alasca, ou Sasquartchs do Kentucky e de New Jersey. Alguns sonhavam com a possibilidade de ter-se notícias do Abominável Homem das Neves, o exótico yéti da floresta himalaia de Shennongjia onde, de tempos a tempos, desce a passar uma temporada... Sonhavam, ainda, poder vislumbrar verdes criaturinhas adoradoras de dois sóis, vindas de Procyon – um dos cães da bela Diana, deusa da caça –, anjos seráficos da Grande Nuvem de Magalhães e da Andrómeda, Eloins das eras bíblicas, que desceram dos céus pela escada de Jacob, num carro tão brilhante que Ezequiel não soube dizer se era de crisolite, da pura pirite com que os antigos faziam espelhos... ou de ouro. Ou ainda, esses entes superdesenvolvidos e quase imortais, do bizarro planeta que volteia à roda da sextupla do Dragão e cujo deus era – num passado remoto – as seis faces dos sóis do sistema! Mas nada sucedeu.
Desde então, a nave seria perfeitamente autónoma e dependeria apenas do seu cérebro electrónico e da sua robótica. Seria inútil enviar-lhe uma ordem. Ela jamais a poderia receber. Libertara-se para sempre da tutela ou do jugo dos progenitores, os deuses que a tinham concebido e construído, que lhe tinham dado uma vida e um destino. Em contra-partida, seria ela a poder modificar o pensamento dos seres tecnológicos que ficaram no planeta azul, enviando-lhes informações deles desconhecidas, por serem pertença doutro Sol e doutros deuses. Contudo – julgava-se na Terra –, isso só aconteceria (se acontecesse...), já nas imediações da Estrela de Barnard. De resto, nada houve de significativo para registar. Os deuses – a existirem... – moravam ainda mais longe!
Restava aos cientistas – particularmente aos biólogos – esperar pacientemente pelos resultados da nova série de experiências a realizar com outras sementes e amêndoas, assim que a nave tivesse atingido o máximo da velocidade, estabilizando-a, bem antes do meio do percurso. Aí, a aceleração seria nula.
Os resultados foram sensacionais: elas germinaram e cresceram como se em igual cativeiro, nalgum laboratório da Terra!
.
em A FEBRE DO OURO. pág 123
Muito bom. Boa noite e até amanhã.
ResponderEliminarBeijos!