terça-feira, 25 de outubro de 2011

NA ILHA DAS ÁRVORES (2)

Os troncos fantásticos daquelas árvores lisas – estas muito mais altas e grossas do que a que observaram de perto, na subida da colina – mantinham a cortina impenetrável que impossibilitava a visão, para além do horizonte médio. Apenas numa posição muito precisa, por uma nesga centimétrica entre dois dos colossos verticais, era possível observar o que o marinheiro vislumbrara.
– É qualquer coisa que brilha...
Não seria tão brilhante como a diamante da Esperança, que foi parar às mãos de Luís XIV e Maria Antonieta, mas estonteava tanto como o ouro…
– É como qualquer coisa que brilha, é...
– Avancemos com muito cuidado! – sussurrou o capitão, certificando-se do inesperado reflexo. – Vocês – apontou para três dos sete nautas de bordo – sigam na frente e estejam preparados para disparar... se for preciso...
O esquadrão deslocava-se agrupado, seguindo à frente os três peões designados pelo comandante; o resto do grupo era ladeado por mais quatro, as espingardas aperradas, a respiração suspensa, o olho atento. À medida que andavam e se abria o ângulo entre as duas árvores donde vinha o reflexo brilhante, a visão tornava-se mais precisa; contudo, à medida que avançavam, os descobridores começavam a sentir-se enredados num labirinto sem fim, que baralhava os caminhos e o passo.
– Parece um objecto metálico...
Caminhavam na sua direcção, hipnotizados por aquele reflexo que se intensificava e ganhava forma, alheio ao resto da paisagem que não mudava, antes se enredava sobre si mesma, multiplicando-se. Um diorama grego? Coisa a ser reportada – mais tarde –, até ao ínfimo pormenor, na National Geographic, ou na edição dominical... do Paris Match!
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em "A FEBRE DO OURO", pág 86

4 comentários:

  1. O ouro, vindo dos asteróides de há biliões de anos, fascina as pessoas.. primitivos que continuam, tipo macacos, os ancestrais..
    A lógica do raciocínio, ainda não reparam, não...
    Ainda não aprenderam a dar a mão..

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  2. O ouro... a grande tentação.

    Excelente excerto!

    Abraço

    Olinda

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  3. desde sempre corremos de encontro ao que reluz, quem sabe se foi isso que nos acabou por tornar pessoas assim tão perdidas de nós e tão longe dos demais
    bjs

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  4. Capitão esperto e cheio de malícia.
    Beijos!

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