quinta-feira, 9 de junho de 2011

A FEBRE DO OURO

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INTRODUÇÃO
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"O medo
principalmente o medo da morte
é a mão dos deuses"
  Lucrécio
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No Tempo Remoto, as gentes nada sabiam dos Céus nem das Estrelas. Julgavam que o Mundo era o centro de todas as coisas e o Mundo não era senão a Ilha onde viviam.
Entendiam o Mar como uma superfície finita, mas incerta, cujos limites desconhecidos se tocavam algures, na distância, com a matéria do Céu, selando-se ambos, como uma concha.
Viam perfeitamente a abóbada côncava do que estava por cima e imaginavam que o mar também assim fosse, estando por baixo.
Havia pois, o que estava por cima e o que estava por baixo. Ao centro, firme e indestrutível, a terra firme da Ilha onde viviam.
Isto era no Tempo Remoto, há milénios no passado.
Para a maioria, as Estrelas eram coisa intrigante; e que infundiam muito respeito. Como muito respeito infundia a Noite: um deus mau – um terrível transe, continuamente renovado. Um deus que trazia o sonho, é certo, mas poucos sonhavam com as maravilhas dum futuro que não vislumbravam, antes, se arrepiavam – na maioria dos casos – ao rever o seu próprio passado pessoal, ou o dos seus mais próximos (alguns já mortos!..), sempre tão cheio de misérias e medos, particularmente quando vinha a hora terrível do frio e das feras – esses temíveis felinos, corpulentos e ágeis, com dentes afiados que nem sabres, que viam melhor de noite... que o povo, em pleno dia! E que davam a impressão de matar por prazer ou vingança, deixando, muitas vezes, inteiros ou apenas esfacelados os corpos das vítimas, nos fulminantes ataques perpetrados pela calada da noite!...
Só o fogo os vencia. Por isso, o felino era, para os primitivos, o Senhor das Trevas, tão feroz quanto o próprio Deus-Mau da Noite, insaciável e carniceiro, que ceifava a vida de quem se atrevesse a espiar o negrume da concha do que está por cima, depois do Sol se pôr.
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Assim começa "A Febre do Ouro"

4 comentários:

  1. No tempo da Inocência, o desconhecido era como imaginávamos.
    Eu na infância, tinha exatamente essa definição, como se o mundo fosse duas metades dum bola que se encontravam, água e céu, uma água evaporada que cintilava, e me perguntava onde Deus fica. onde se firmava sua morada, por que pra mim, tudo tinha que ter corpo, matéria apalpável, afinal eu era criança. E tinha mesmo medo das noites escuras, mas o primitivo, o inocente, o frágil dentro de nós, essa parte vulnerável de todo ser, tinha medo do desconhecido escuro, e te pergunto: quem não o tem? entra num beco escuro na madrugada, com chuvas e trovões, na incerteza, veja se não pulsa o coração irracional, homem primitivo aguçando a imaginação da fera dantes, nos primórdios medos da humanidade. A inocência pode dá tanto confiança desmedida, como o medo que faz, e dá a garantia da sobrevivencia.
    Essa viagem ao centro das raízes emotivas, humanas, nem é ficção, é real, e tanto pra dentro de nós, como pra fora do planeta, existe muito a desvendar. Ótima jornada querido...e acrescento, dá sim medo, do que vamos encontrar, em nós. Beijos.

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  2. Imagino um bebe chegando ao mundo(vida), ergue os bracinhos assustado com a dimensão do espaço, treme e chora, se sente desprotegido, inseguro; Agora um astronauta o espaço, sai de sua nave...e por acidente perde a ligação que o prendia
    (cordão umbilical) e sai espaço a fora sem destino e condenado ao desconhecido(morte). Qual dos dois momentos houve maior e significante medo? não é a mesma coisa? Não seria a morte um renascimento, ou a vida um morte lenta, sim por que o processo mortal começa no momento que nascemos. Perguntemos a idade dum recém nascido: dirão: uma hora + de vida(uma hora - de vida). Morte e vida, uma mesma coisa, uma realidade de duas faces, como um buraco negro dos filmes de ficção, onde ao atravessa-lo, somos o oposto dum realidade. Beijo meu amigo.

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  3. a Febre do Ouro está muito interessante, ou bom
    entramos no medo e no espaço e no medo.

    A história dos meus Gatos, deveria aparecer num
    outro blogs, pois fica fora do contexto do que habitualmente escrevo, (reconheço) mas aí me falta conhecimentos de tecnologia para manipular e realizar o que idealizo.

    Até não sei se continuo, dada a grande diferença
    e as pessoas se ressentem... eu já me tinha apercebido disso.
    Mas nada posso fazer! Vai ser publicado, um dia,
    mas ali, não sei se vou continuar...

    É surreal e a continuação até pode chocar...
    Tinha de ir para outro espaço!
    Faltam-me conhecimentos técnicos. Obrigada por escrever.
    Um abraço,

    Maria Luísa

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  4. Li a primeira linha deste texto. Voltarei para reler a primeira linha do texto.
    A gente nada sabia dos céus nem das estrelas , mais imaginar é tão bom.
    Que bom!!!!!
    Beijos!

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